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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

CINEMA: Área Q


Area Q

Sinopse: Quixadá, 1979. O fazendeiro João Batista (Murilo Rosa) é surpreendido ao ser abduzido por seres extra-terrestres. Ele retorna com poderes, o que faz com que se torne um mito local. Duas décadas depois, o jornalista investigativo Thomas Matthews (Isaiah Washington) chega à cidade. Enviado por um jornal americano para desvendar os relatos de OVNIs na região, Thomas ainda sofre pelo misterioso desaparecimento de seu filho, ocorrido há pouco tempo. Ao entrevistar algumas pessoas abduzidas, Thomas percebe que há fundamento no relato delas e que, de alguma forma, os eventos da região estão ligados ao sumiço de seu filho.

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Na trama, Isaiah Washington, ator conhecido por suaconturbada passagem pela série de TV Grey's Anatomy, interpreta Thomas Matthews (pra não faltar um nome bíblico ele tem logo dois...), um jornalista dos EUA que perde seu filho misteriosamente. Para tirá-lo do luto, seu chefe envia Thomas para fazer uma reportagem sobre os misteriosos relatos de abdução que grassam na região no interior do Ceará que tem cidades iniciadas com a letra Q, como Quixadá e Quixeramobim. Lá, Thomas conhece uma jornalista brasileira (Tânia Khalill) que também desconfia da veracidade desses fenômenos. 

A atividade sobrenatural está relacionada com o sumiço da criança, claro, mas essa não é a única lição que Thomas vai tirar dessa história. À doutrina espírita se juntam, no filme, dois outros tópicos (que já eram insinuados na escolha de um jornalista/turista como protagonista): o mercado do turismo fantástico-esotérico-religioso na Área Q e o tratamento que a mídia dá a essas crenças. É a posição reativa que a Estação Luz assume aqui, como se a função deste filme não fosse tanto doutrinar novos seguidores, e sim articular uma resposta aos descrentes e aos "aproveitadores". 

O que torna Área Q curioso - à parte seu discurso carola-reacionário do homem consciencioso que "não resiste à sedução" da mulher pecaminosa - é que o filme critica a exploração turística da região, e ao mesmo tempo é todo estruturado e filmado justamente como um cartão postal de lá. São constantes os planos aéreos de helicópteros, mostrando a natureza de Quixadá, e a cada plot point Thomas está em um ponto turístico diferente (o Centro Cultural Rachel de Queirós, a Pedra da Galinha Choca...). 

Nessa inconfessa propaganda turística da Área Q, o que mais chama atenção é a frequência com que o diretor Gerson Sanginitto filma o sol, de dia e à tarde, e depois à noite busca os focos de luz em computação gráfica das aparições do espaço. Talvez seja um reflexo inconsciente, mas há um esforço de convencimento aí, como se o céu sem nuvens de Quixadá, com seu horizonte largo que permite horas de exposição à luz, fosse um palco privilegiado de contato espiritual - um lugar onde a luz material do sol e a imagem de uma luz divina são uma coisa só.
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