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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

CINEMA: ALWAYS

 

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Posso estar enganado, mas acho que Além da Eternidade é um dos poucos filmes dirigidos por Spielberg que não deixaram grande marca: ficaram numa espécie de limbo – como o personagem central, Pete Sandich, interpretado pelo mesmo Richard Dreyfuss de Tubarão, de 1975, e Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de 1977.  

Quando o filme começa, Pete está numa de suas muitas missões. Ele é piloto de um antigo avião (Spielberg tem uma paixão por aviões dos anos 40), e trabalha no combate a incêndios florestais. Experiente, bom de serviço, seguro de si, ele sempre se arrisca demais. É o caso agora, da missão em que ele está no início do filme. Forçou demais, voou mais do que deveria para combater o incêndio lá embaixo, e ficou completamente sem combustível. Terá que plainar até a pista da base dos aviões bombeiros. Vamos vendo, intercaladas com as tomadas de Pete em seu avião sem combustível, o desespero que vai tomando conta de uma moça na torre de controle: é Dorinda, a namorada de Pete, interpretada por uma jovem Holly Hunter que nunca esteve tão linda, essa ótima atriz que nunca chegou a ser propriamente bonita, ao menos da beleza mais tradicional, padrão.

Intercaladas com as tomadas de Pete no avião e Dorinda na torre de controle, vemos tomadas de um aviãozinho de entrega de cargas, chegando para dar os parabéns pelo aniversário de Dorinda, com uma grande caixa, o presente de Pete para ela. O piloto do aviãozinho que chega soltando balões – veremos depois – chama-se Ted Baker (Brad Johnson).

Pete consegue pousar seu avião, depois que Dorinda transforma a colher que está segurando numa coisa disforme, à la Uri Geller.

Pete chega todo sorridente, Dorinda está furiosa. Não agüenta mais aquela vida de sobressaltos diários, de achar que no dia seguinte Pete vai ousar tanto que daquela vez será fatal. O grande (em todos os sentidos) amigo do casal, Al (John Goodman), tenta convencer Pete a largar aquilo e ir para uma vida tranqüila como professor de pilotos para combate a incêndios numa base no Colorado. É tudo que Dorinda quer. Ela dirá isso a Pete, no final daquela noite, já madrugada. Mas, antes, há a noite do aniversário dela no bar da base.

A seqüência do bar é longa, gostosa, engraçada, divertida, estupidamente bem feita, com uma montagem ágil, maravilhosa. O casal discute. Ele quer que ela abra a caixa do presente, aquela tal que chegou no aviãozinho de Ted Baker, ela demora a abrir – é um vestido todo branco, sapatos de salto alto branco. Dorinda, 100% do tempo em calça comprida e jaqueta no trabalho na base, vai aparecer no salão vestida de mulher, como ela diz, e vai parar o comércio, vai deixar toda a base boquiaberta, de queixo caído.

Em casa, depois da festa, vem a conversa; Dorinda dá um ultimato a Pete – ou a vida tranqüila como instrutor de vôo no Colorado, ou é o fim. O dia está raiando, toca o telefone, há um grande incêndio florestal a apagar, e lá vão os vários aviões, o grande Al no dele, Pete no seu.

Audrey Hepburn, belíssimo anjo, se despede

Estamos com uns 20 minutos de filme. Pete vai conhecer Hap.

A seqüência em que os dois se encontram pela primeira vez é belíssima. Revi o filme agora para fazer esta anotação pela – terceira? quarta vez? sei lá –, e babei de novo, como se nunca tivesse visto.

Hap recebe Pete toda de branco – é Audrey Hepburn em toda a sua elegância inigualável, o rosto com a marca dos anos, a silhueta igualzinha à que mostrou na sua estréia A Princesa e o Plebeu/Roman Holiday, em 1953, a mesma voz bonita, a dicção clara, perfeita, aquela dama de uma dignidade absurda. Estão num trechinho de chão que tem um gramado perfeito, cercado por uma área de floresta destruída por um grande incêndio – um pequeno oásis no meio de uma paisagem infernal. Hap vai contando a Pete, muito suavemente, como serão as coisas daí para a frente.

As piadas impedem que o filme fique piegas

Para contar essa bela história de amor, Spielberg usou a base da trama de um filme de 1943, Dois no Céu/A Guy Named Joe, com Spencer Tracy e Irene Dunne. Não tive a oportunidade de ver o original, mas a versão de Spielberg é uma maravilha. Com piadas, seqüências de ação inesperadas, ele tira a possibilidade de sua história parecer piegas, sentimentalóide. Nem precisava tomar tanto cuidado para não parecer romântico demais. É uma bela história.

É impressionante como ele usa bem os travellings, com muito carrinho sobre trilhos, muita grua, a câmara subindo e descendo naqueles guindastes. Há travellings assim quase o tempo todo, mas ele faz de uma forma suave, de tal maneira que o espectador nem perceba muito que a câmara está se movendo sem parar.

Um filme que tem poucos fãs

Não é fácil achar muitos elogios ao filme. Leonard Maltin deu 2,5 estrelas em 4, e Roger Ebert, que em geral dá notas mais altas, desta vez inverteu: deu 2 estrelas em 4. Em sua crítica, Ebert dá informações interessantes. Conta que Richard Dreyfuss viu A Guy Named Joe pelo menos 35 vezes, e Spielberg viu outras tantas quando era garoto; “foi um dos filmes que o inspiraram a virar diretor de cinema”. “Quando Spielberg e Dreyfuss estavam fazendo Tubarão em 1974, um falava de determinada seqüência do filme para o outro – e finalmente, em 1989, fizeram um filme deles mesmos. A refilmagem (…) se passa nos dias atuais, e não no passado, e os pilotos estão lutando contra incêndios florestais, em vez de aviões inimigos, mas as idéias básicas estão todas no lugar. Mas, infelizmente, eles não acrescentam muita coisa: este é o filme mais fraco de Spielberg desde 1941.”

É a opinião do Ebert – e é claro que ele faria a comparação com 1941; quando eu escrevi lá em cima que este Além da Eternidade é um dos filmes de Spielberg que não deixaram grande marca, estava pensando em 1941 e em Hook – A Volta do Capitão Gancho. Bem, eu gosto muito de todos esses três filmes que em geral são considerados os mais fracos de Spielberg.

E cada vez que revejo este Always gosto mais.

 

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